No litoral sul de São Paulo há uma cidade com 32 kilómetros de praia, PERUÍBE, e ao sul dela, o GUARAÚ, seguido mais ao sul surge a Reserva Ecológica da JURÉIA

Esta é uma terra de neblina envolta em segredos e mistérios, estes são apenas alguns deles, algumas curiosidades que tenho ouvido falar quando vou lá respirar as brumas de Peruíbe e mergulhar nas cachoeiras.

Um dos interesses científicos na Reserva Ecológica Juréia-Itatins são os SAMBAQUIS, montes de conchas e ossos fossilizados de mais de oito mil anos, túmulos indígenas pré-históricos de alto valor Arqueológico e Antropológico encontrados em Oitinga Grande, que atraem pesquisadores historiadores.

Entre Peruíbe (a cidade), Guaraú (Serra de Itatins) e o mangue da barra do rio Una (Negro em tupi) surge um Triângulo Magnético segundo os místicos, uma energia telúrica geológica-geofísica em forma piramidal, o “DELTA DA JURÉIA”.

AS montanhas rochosas são vulcânicas, há pedras de lava datadas de eras geológicas anteriores, muito antigas, a serra de Itatins é um enorme vulcão inativo, e de frestas nas rochas sulfúricas brota água mineral radiotiva, rica em minérios diversos e sais minerais, e toda manhã desce das frestas nas rochas, cavernas e galerias subterrâeas da serra uma misteriosa neblina fria rica em ozônio, criando uma atmosfera ozonífera de 5,6% ; carregada deste ozona e respirada todo o dia pelos moradores, um lugar de muito interesse para pesquisadores geólogos.

O ozônio, junto à água mineral radioativa, recebe dos místicos o atributo de Anti-Agápico, rejuvenescedor, curativo, e os pagés indígenas chamavam esta montanha de Itatins de “Morada dos Deuses” o que atrai praticantes de xamanismo e ufólogos devido às aparições frequentes de Objetos Voadores Não-Identificados (OVNIs) que não surpreendem os moradores.

Estes OVNIs apresentam-se como luzes no céu em forma de bolas , que são velozes como centenas pirilampos acesos voando velozes sem piscar, brilhando luzes amarelas intensas logo após o poente, vaga-lumes que precedem o gigantesco charuto colorido que manobra lentamente em ângulos retos contra o vento e esconde-se depois dos morros do Itatins em plena floresta da Juréia, mata fechada, parecendo um enorme Zepelim dirigível.

Eu mesmo observei este fenômeno inexplicável junto a oito pessoas no sítio do sogro do artista plástico Louis Ferreira, que com um binóculo desenhou o OVNI , contudo, o mais surpreendente foi a naturalidade do filho do caseiro que brincava com o cachorro, ignorando o fenômeno, para ele quotidiano; os caiçaras chamam isto de “Mãe do Ouro” que viaja pelo céu em bolas de fogo, mais outro mistério da Juréia.

Também há a lenda da Bola de Fogo do Pogoçá , que de sete em sete anos surge da Pedra do Pogoçá e cruza os céus, entrando na mata da serra dos Itatins, entre muitas outras.

Nesta Serra Ozonífera o escravagista cristão-novo Pero Correia teve a visão mística que o Abarebebê (padre jesuíta Leonardo Nunes) explicou-lhe depois ter sido uma aparição da Virgem Maria, convertendo-o ao cristianismo por volta de 1550, falecido em 1554, uma biografia (Hagiografia?) de muito interesse para historiadores.

Místicos afirmam que a atmosfera ozonizada cria um desprendimento amoroso e um desejo de viver alegre e feliz, um bem-estar, bem-aventurança, êxtase místico permanente.

Peruíbe é uma estância Hidromineral única, águas límpidas e puras de incontáveis cachoeiras e fontes minerais e sulfurosas abundantes convidam ao banho de cachoeira no verão, em uma região de alto índice pluviométrico.

Abundante areia de quartzo, areia monazítica e diversas gemas semi-preciosas e cristais rutilados dourados atraem místicos, e com tantos tipos deles brotando do solo vulcânico rico em minérios, surge a CASA CHÃO DE PEDRA, na estrada do Guaraú , construída apoiada nas pedras naturais, com piscina terapêutica de água mineral sobre rochas incrustradas de cristais, sauna, viveiro de carpas (peixes símbolo da longevidade no Japão que passam dos 100 anos de idade), museu de artesanato, beija-flores selvagens e uma famosa Fonte da Juventude,

A pesca artesanal é rica em diversas espécies de peixes (como a Tainha migratória dos meses frios sem R, enterrada na areia da praia sob o sol enrolada em folha de bananeira, cozinha-se na própia gordura pelo dia todo e sua ova dourada frita tem um sabor indescritível, uma iguaria sem par), camarões e lagostas, carangueijos e moluscos diversos nas rochas cheias de cavernas submarinas.

Nos dias mais quentes de verão surgem nas areias das praias milhares de “Peguavas”, mariscos-mexilhões (Donax Rugoja) em forma de escudo que nós, caiçaras, colhemos e fritamos no azeite; a dosagem de fósforo vitaminado deste mexilhão é única no mundo, a composição química é de : fósforo, ácido grutânico, ferro, cálcio, e a série quase completa da vitamina B, somado a um hormônio vaso-dilatador que regenera e ativa os órgãos sexuais, sendo afrodisíaco.

Na Ilha Grande, antigo porto de escravos de Pero Corrêa, ainda hoje existem as raras cobras JARARACAS, ofídeos hermafroditas de interesse científico único para os zoólogos, que tem, ao mesmo tempo, o sexo masculino e feminino.

Entre as ondas do mar revolto rebentando espuma prateada nas rochas vulcânicas (e sempre com surfistas dançando sobre elas) com o yodo e a ozona, Peruibe tem o terceiro melhor clima do mundo, só superado por duas cidades na Suíça (que passam metade do ano sob gelo e neve).

Alguns olhos-d’água, fontes e regatos com cachoeiras e piscinas naturais tem água exalando altos teores de gás sulfídrico e sulfuroso por toda a Juréia, outros rios amarelados tem teores elevados de enxofre vulcânico, rios cítricos com propriedades alcalinas, terrosas, cácicas, magnesianas, cloretadas sódico-sulfurosas etc.. todos estes rios de pura água mineral salutar e curativa desaguam no mar rico em algas e planctom de onde retiram-se os peixes e mexilhões.

Além disto, o Rio Negro (bairro Jardim Veneza) é um sinuoso manguezal de água salobra, ecossistema rico e preservado,o mangue, rio negro devido à decomposição orgânica de folhas e vegetais, de onde surge a famosa LAMA NEGRA.

Uma fonte sulfurosa vulcânica radioativa brota perto do manancial de Lama Negra, combinada ao composto do caldo orgânico vegetal rico em bactérias, água sódica, magnesiana, cloretada, cálcica e alcalina.

Aplicada sobre a pele humana e secada a quente pelo sol tem efeitos cosméticos restauradores, cura de doenças de pele e cura de reumatismo, a FANGOTERAPIA é o tratamento por lama.

Esta lama negra tem na composição química: 1,2% de enxofre, 0,003% de óxido de titânio, 0,007% de latânio (sulfurosa), além de iodo, bromo,rubídeo,estrôncio, sódio, manganês, zircão, feldspato,muscovita,turmalina, etc.combinados numa composição mineral riquíssima com efeitos curativos, regeneradores e efeito anti-agápico (rejuvenescedor) mesmo que por efeito placebo de auto-sugestão de vigor e entusiasmo juvenil contagiado pela beleza do ambiente com a atmosfera 5,6% ozoniada.

Seguindo o rio da cachoeira do Perequê no Guaraú há um porto fluvial com uma FIGUEIRA, uma árvore centenária com cerca de 500 anos, trazida como muda nas primeiras caravelas portuguesas; a Figueira é uma árvore simbólica, mística, os cabalistas judeus dizem que a Figueira teria sido a árvore do Éden, e os indianos dizem que BUDA alcançou a iluminação sentado meditando sob uma frondosa Figueira, diversas culturas cultuam esta árvore… minha tetra-ta-ta-tara-avó do lado materno trouxe uma muda de Figueira na caravela e plantou no quintal, e várias gerações brincaram nela, mas lá por 1910 os ingleses chegaram com sua linha férrea de estações “art noveau”, a ferrovia e os trems, e desapropriaram nosso quintal em Itanhaem, derrubando a nossa Figueira sob as lágrimas de três gerações de meus ancestrais, e hoje lá, onde era o quintal da casa ao lado da igreja, passam trilhos do trem.

Também na Juréia há a Porta de Pedra, ladeada por uma serpente em alto-relevo, e batendo-se na porta com uma pedra ouve-se o som oco das galerias e cavernas subterrâneas que inspiram diversas lendas locais.

Perto da praia do arpoador uma rocha tem, há 20 metros de altura, duas enormes argolas de cobre cuja origem é um mistério até hoje.

Mahakrishna, fundador da Maha Yoga, ao visitar a Juréia, comparou as montanhas do Itatins com uma região sagrada da Índia pela vibração do local, considerando-o um “Lugar de Poder” ou lugar de solo sagrado, os antigos índios Tamoios já consideravam este um lugar santo antes do branco chegar, e até na Grécia o Olimpo era a montanha dos Deuses, e também os judeus tem o Monte Sinai, bem como os franceses tem o Monte Sant Michel isolado na maré alta, todos os povos tem seu monte sagrado, é um arquétipo segundo a Psicologia Analítica de Carl Gustave JUNG, parte do Inconsciente Coletivo de todos nós, talvez o Itatins seja a Montanha Brasileira .

A Estação Ecológica Juréia-Itatins tem 820 kilómetros quadrados (82 mil hectares), última reserva intocada da Mata Atlântica brasileira, com as últimas árvores nativas de Pau-Brasil, uma rica flora (paraíso dos cientistas da biologia vegetal, os botânicos) de árvores diversas: samambaias, orquídeas, avencas e as famosas bromélias- verdadeiros mini-ecossistemas com caldo de bactérias, insetos e pererecas-sapinhos habitando-as, com uma água represada de onde antigos pagés faziam beberragens curativas.

Há mais de 130 espécies de pássaros e aves já catalogados até o momento, como: papagaio, martin-pescador, coruja, tucano, araponga, gavião-pomba, tiê-sangue, beija-flor, etc..

Também há onças, macacos, tatús, cobras, tartarugas, jacarés, peixes diversos, pitús-camarões de água doce, etc…sem contar as centenas de espécies de insetos: borboletas, bezouros; além de aranhas , escorpiões e lacraias (sonho dos cientistas de insetos e aracnídeos, os biólogos entomologistas).

Os ecossistemas presentes são : mar, montanha, praia, mangue, rio, lagoa, grutas, etc com diversos nichos ecológicos em um paisagem florestal incluída entre as 5 últimas reservas naturais de maior biodiversidade intocada do planeta .

Em 1980, a Ditadura Miltar desapropriou toda esta área para a construção de seis usinas nucleares.

A NUCLEBRÁS- autarquia do Programa Nuclear Brasileiro- cercou a área com o Exército, contratou guardas armados e afugentou as imobiliárias da “Área de Segurança Nacional Geopolítica” .

Então surge o personagem símbolo dos ambientalistas e ecologistas da Baixada Santista: Ernesto Zwarg .

Zwarg, professor de portugês em escolas públicas de Itanhaém, foi eleito vereador em 1974 e iniciou sua luta pela criação de uma reserva ecológica na Juréia nos anos de chumbo da Ditadura Militar, enfrentando a Nucleobrás, envia ofício à Camara de Vereadores de Angra dos Reis (Cidade Fluminense) e alerta-os para construirem Abrigos Anti-Nucleares para o caso de vazamento radioativo (como depois aconteceu em Chernobil-URSS e o caso Césio 90 em Goiânia com o envenenamento radioativo de uma população).

Enersto Zwarg também é poeta e compositor, com um LP de vinil independente, gravado na década de 80, seu tema é a beleza natural do litoral sul paulista e o protesto ecológico.

Zwarg desenvolveu teses pioneiras sobre “Direito à paisagem” , “Biopirataria” (termo que criou), e redigiu dezenas de requerimentos, processos e projetos de lei de cunho ecológico e preservacionista, criando eventos como uma placa de metal inaugurada com o Embaixador da URSS, além do Deputado Mário Schemberg ( Doutor em Física e professor da USP, colaborador da equipe de Einstein, que comprou o primeiro computador da USP para simular reações nucleares por ser contra o Reator Nuclear depois implantado dentro do Campus Urbano da USP, Schemberg também era Crítico de Arte) e Evandro Carreira, deputado pelo estado do Amazonas, tudo muito noticiado pela mídia, valendo-lhe o apelido de “Louco da Juréia”, slogam que Zwarg prontamente adotou com alegria.

Zwarg pesquisou formas alternativas de energia, eólica (ventos), das ondas do mar, energia solar, etc..além de hortas hidropônicas, orgânicas, biotecnologia, etc..registrados em seus projetos e requerimentos, até que, em 1977, consegue que o Condephaat aprove o tombamento do maciço da Juréia, que foi o começo da reserva ecológica de hoje.

A Nuclebrás nunca pagou os terrenos desapropriados, e no governo do Presidente Sarney o projeto nuclear foi desativado na Juréia.

Em um dia comemorado até hoje, o 19 de janeiro, o então governador de São Paulo, Franco Montoro, foi de helicóptero até a ilha do Cardoso e lá assinou o decreto criando a Reserva da Juréia.

A Biosfera da Juréia é, (junto com a Floresta Amazônica e o Pantanal de Mato Grosso do Sul) , um dos maiores reservatórios da biodiversidade do planeta, um banco genético incomensurável protegido por uma casa com cinco funcionários e algums cientistas visitantes (que ficam um tempo, escrevem suas teses e nunca voltam, já tendo mais de 50 teses de doutorado, dissertações de mestrado e artigos científicos inéditos internacionalmente produzidos graças a Juréia), uma ilha cercada de especulação imobiliária por todos os lados.

Tal qual o “Parque Nacional das Cataratas do Iguaçú”, a Juréia tanto pode servir à educação ambiental quanto gerar divisas turísticas internacionais, sem contar as patentes de biotecnologia de remédios diversos..

Não apenas um patrimônio nacional brasileiro, mas um patrimônio da Humanidade hoje entregue à biopirataria das multinacionais, como denunciou Ernesto Zwarg..

Os projetos genoma de mapeamento do código genético (Adenina, Tinina, Guanina e Citosina) equivalem, miticamente, ao abrir a “Caixa de Pandora” soltando muitos males e deixando pouca esperança dentro.

Vivemos na fronteira, no limiar entre Eras, o fim da “Era da PIROTECNOLOGIA” (tecnologias secas originárias da descoberta do fogo: metalurgia, cerâmica-supercondutores, olaria-edificação-urbanismo, motores a combustão petroquímica poluidores, computação, robótica, satélites, Internet, vidro-fibra optica, bomba atômica, bomba de hidrogênio, bomba de nêutrons, etc.) e o início da “Era da BIOTECNOLOGIA”-(tecnologias orgânicas molhadas, procriação seletiva, Eugenia, Sociobiologia, clonagen, alimentos transgênicos, Engenharia Genética, Projeto Genoma Humano, etc) com todos os arrependimentos e remorsos da Era de Hiroshima coexistindo com todas as promessas e esperanças da nova Bio-Era futura.

A maior sorte da Juréia é não ser foco de atenção da Mídia internacional, (como a Amazônia e o Pantanal), e também, ninguém acredita que este paraíso poderia existir apenas a 200 kilometros da poluída Grande São Paulo, estressada megalópolis de 17 milhões de habitantes no ano 2000; é isto tudo o que certamente garantirá ainda muitos anos de preservação à “ESPERANÇA VERDE” da reserva biológica da Juréia.

Bibliografia:

História Secreta do Brasil:

EKMAN, Maya. Peruíbe, história das suas origens, lendas e contos.Peruíbe: Editora A Busca [1988].